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O FENÔMENO DAS FLORESTAS VAZIAS

A “defaunação” é um termo que vem sendo utilizado para caracterizar a perda de espécies e populações de animais no planeta, e deve ser considerado no mesmo senso da palavra desmatamento, que descreve a perda de vegetação.


Estudos indicam que dentre os vertebrados terrestres, mais de 300 espécies foram extintas desde 1500, e as espécies que existem atualmente mostram um declínio de 25% em sua abundância. Essa perda de espécies não é apenas uma consequência direta dos impactos gerados pelo homem, mas também é uma causa primária de mudanças no meio ambiente, já que as extinções podem causar grandes alterações nos ecossistemas devido à função que cada espécie desempenha no meio, como por exemplo, animais polinizadores e dispersores de sementes, cujo desaparecimento influencia diretamente a vegetação.


Um dado também preocupante, apesar de receber menos atenção e ter informações extremamente limitadas, se refere a perda de invertebrados com uma situação tão severa quanto a dos vertebrados.


Esse fenômeno de desaparecimento das espécies faz com que muitas áreas de matas aparentemente preservadas se tornem “florestas vazias”, locais onde poucos animais podem ser encontrados.


Na Mata Atlântica, por exemplo, muitos animais estão desaparecendo, como a onça-pintada (Panthera onca), cuja população nesse bioma teve uma redução de 80% nos últimos 15 anos. Sua extinção local, causada principalmente pela perda de hábitat e caça predatória, poderá causar grande desequilíbrio ambiental, pois esse felino é um predador de herbívoros como veados, porcos-do-mato e capivaras.


Outro exemplo disso é o caso da jacutinga (Aburria jacutinga), uma ave endêmica da Mata Atlântica, dispersora de sementes, que quase foi eliminada de sua distribuição original, sendo extinta nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e sul da Bahia, devido ao desmatamento e à caça intensiva.


As “florestas vazias” já são encontradas em muitas partes da Ásia, África e América Latina. As matas do Borneo, no Sudeste Asiático, são exemplos disso, e foram destacadas em um estudo publicado em julho na revista Science, já que espécies emblemáticas como o orangotango e o calau-rinoceronte, desapareceram de um de seus Parques Nacionais, e outras como o gibão tornaram-se muito raras.


Tendo em vista esse cenário, pesquisas estão sendo feitas para o desenvolvimento de técnicas e ferramentas que possam reverter esse quadro. Programas que visam o movimento intencional de animais para restaurar populações de algumas espécies estão obtendo um progresso substancial. Um exemplo disso é o caso da translocação de lobos no Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos na década de 1990, e que teve muito sucesso na restauração do ecossistema (“Como lobos mudam os rios” – http://www.youtube.com/watch?v=grjaigPe6EY).


No Brasil, um caso de sucesso que exemplifica essas movimentações intencionais é o dos micos-leões-dourados (Leontopithecus rosalia), iniciado na década de 1980 no Rio de Janeiro. Até hoje, 153 micos nascidos em zoológicos de vários países foram reintroduzidos pelo programa da Associação Mico-leão Dourado, que já contribuiu para um aumento de mais de um terço dos cerca de 1.200 micos-leões-dourados que hoje vivem livres na Mata Atlântica da baixada costeira do Rio de Janeiro.


Apesar do sucesso desses e de muitos outros projetos de translocação ao redor do mundo, a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) enfatiza muito a importância de análises de viabilidade e risco como componentes essenciais para qualquer projeto envolvendo a soltura de espécies. No caso da Mata Atlântica, embora restem apenas 11 % de sua mata original, ainda existem blocos contínuos de boa qualidade em relação à cobertura vegetal. Assim, vale a pena pensar em projetos de soltura de animais que, se bem planejados e com muito critério, podem ajudar no repovoamento de nossas florestas.

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